Falta de atenção no trânsito agora custa mais caro


Como todo garoto de 18 anos, Rodrigo logo tirou sua carta e passou a dirigir o carro da família.  Como todo novo aprendizado, a direção requer treino e atenção. E mais ainda para os jovens que nunca desligam do celular e continuam a conversar e trocar mensagens mesmo no trânsito. Mais uma distração entre as muitas possibilidades de perder o foco, ampliando as possibilidades de se envolver em acidentes.

Sim, os jovens são por natureza mais ousados e menos temerosos. Eles arriscam mais e  todas essas características parecem ainda mais presentes nos que são um pouco mais desligados. Assim, em pouco tempo Rodrigo se envolveu em algumas ocorrências de trânsito.  Um lapso de atenção e “oops”, passou no sinal vermelho. Por sorte não bateu, mas o guarda anotou a placa. Fez uma ultrapassagem indevida e quase trombou de frente. Não respeitou a placa de velocidade máxima e o radar fotografou. 

Todos já sabiam lidar com os principais problemas da desatenção e hiperatividade que Rodrigo apresentava desde que era criança, porém desconheciam as consequências para quem dirige. E elas podem ser muito sérias, especialmente para os jovens com déficit de atenção e hiperatividade.

Além da desatenção, a impulsividade também motivou alguns dissabores. Rodrigo sempre dirigia  quase colado ao carro da frente obrigando o motorista a abrir caminho para ele nas ruas movimentadas da cidade. Até que um deles freou de repente, houve um pequeno choque sem danos, mas o motorista saiu do carro com muita raiva e deu um murro no rosto do jovem.  Mesmo assim, o susto não bastou para corrigir essa prática irresponsável.

Mas o pior aconteceu em uma noite de sábado. Nos fins de semana os jovens saem para se divertir, à noite o efeito das medicações já não ajudam a controlar os sintomas, ou o jovem nem toma para garantir que pode beber um pouco no fim de semana, pois esses medicamentos não podem ser misturados com álcool. Pronto, está feita a mistura fatal: álcool mais déficit de atenção. Com isso, Rodrigo entrou no posto do guarda em alta velocidade e cantando os pneus. Não deu outra, foi parado e teve que chamar os pais para voltar para casa. Quando eles chegaram  o carro já estava no guincho e afinal quase agradeceram a ocorrência, porque antes pegar seu filho vivo sem o carro, do que encontrá-lo no hospital ou algo pior.  Ninguém sabe o que pode acontecer na próxima esquina.

E enfim, com esta última infração, Rodrigo perdeu sua CNH e ficou um bom tempo sem dirigir antes de conseguir uma nova habilitação e se retratar com os pais.  Assim como ele, muitos outros jovens com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) também perdem rapidamente a habilitação, pelas seguidas infrações, quase todas motivadas por desatenção, distração, lapsos de atenção que podem causar acidentes, multas, entre outros riscos mais sérios, como atropelamentos de pedestres e ciclistas, ou graves batidas com outros veículos, alguns com perdas irreparáveis.

O caso de Rodrigo  apenas confirma o que as pesquisas já vêm demonstrando nos últimos  anos: jovens e homens adultos portadores de TDAH apresentam sérias dificuldades para dirigir.(1) Mas com o tempo acabam ajustando seu comportamento, com maior respeito às regras do trânsito, mais cuidado e melhor julgamento de riscos e habilidades, conforme ficam mais velhos.

Diante de tantas evidências uma das mais importantes atitudes dos pais é conversar muito com os filhos sobre suas dificuldades, para alertar sobre prováveis infrações e as consequências para sua vida e a dos demais motoristas e pedestres. Os jovens devem evitar  outras atividades enquanto dirigem, como usar o celular, comer ou selecionar  emissoras, que ampliam a distração.(2) Os pais devem ainda monitorar se o jovem toma os medicamentos conforme orientação médica, sem pausas nos fins de semana e ainda alertar  sobre os riscos do consumo de álcool. Riscos gravíssimos para todos, mas que assumem proporções ainda maiores para os portadores de TDAH que tendem a subestimar os efeitos do álcool para quem dirige.

“Motoristas com TDAH são quatro vezes mais propensos a serem julgados por outros como sendo culpados por um acidente. Estudos também têm demonstrado que os motoristas com TDAH  relatam que a falta de atenção durante a condução foi o motivo em 45% desses casos.” (3)

“Motoristas com TDAH são menos propensos a usar cintos de segurança e mais propensos a assumir riscos, duas vezes mais propensos a dirigir acima do limite de velocidade e é mais provável permitirem que a raiva impacte a forma de condução.” (3)

As multas para os muito distraídos estão ainda mais caras e os pontos na CNH maiores. Por exemplo, usar o celular ao volante passou a ser gravíssimo, a multa agora é de R$ 293,47 e os pontos na carteira de habilitação aumentaram para 7. Dirigir sem CNH, fazer racha, dirigir alcoolizado e  recusar o bafômetro também são infrações gravíssimas, sendo que a multa para essas duas últimas é de R$ 2.934,70. (4)

Infografico_multas-01

1. http://www.psychpage.com/family/adhd-and-driving.html

2. http://archpsyc.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1814941

3. http://www.chadd.org/Understanding-ADHD/For-Parents-Caregivers/Teens/Teens-with-ADHD-and-Driving.aspx

4.http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/11/multas-de-transito-ficam-mais-pesadas-veja-o-que-muda.html

Julho/2020 C-ANPROM/BR//1996