Como diagnosticar o TDAH e como ter certeza que você é portador do transtorno.


Tiago era o menino mais arteiro da escola, saía toda hora da carteira, atrapalhava os outros alunos com suas brincadeiras no meio da aula, ou então ficava totalmente ausente enquanto seus pensamentos divagavam mundo afora. Os pais foram chamados para uma reunião com a pedagoga e algumas professoras. Uma delas falou que ele parecia autista. Foi completamente inadequada no seu comentário e por sorte a criança não estava junto. Os pais até sabiam que algo estava errado porque na escola anterior era a mesma história: notas baixas e relatos que iam da hiperatividade à falta de atenção, com algumas brigas nos intervalos. O diagnóstico do TDAH era quase evidente, mas ainda assim eles foram procurar um especialista e acabaram descobrindo que havia um forte componente genético e que o pai de Tiago também era portador de TDAH. Já para Ana Clara as coisas foram um tanto diferentes, ela não tratou na juventude e os problemas da infância persistiram na vida adulta trazendo novas complicações. Talvez porque ela não fosse tão arteira, os sintomas do TDAH não ficaram evidentes na infância e ela cresceu sabendo que algo estava errado, mas nunca entendeu bem o quê. Nem seus pais. Até que, depois de muito esforço e algumas dificuldades, ela entrou na faculdade e começou o primeiro estágio. A baixa autoestima era o tempo todo reforçada por novos comportamentos inadequados e ela nunca entendia de onde vinha tanta confusão simultânea. Foi quando aquilo que ela acreditava ser um defeito se revelou ainda mais complexo e Ana Clara resolveu buscar ajuda, orientada por uma colega que tinha passado pelas mesmas situações de esquecimentos, desatenção e distrações que acabavam resultando em grandes desastres na vida pessoal e profissional. Mas tanto para Tiago quanto para Ana Clara a luta para vencer os sintomas do TDAH estava só começando. Porque um diagnóstico é importante para entender e encontrar tratamentos adequados, mas a participação do paciente e de toda a família também são determinantes para que os resultados aconteçam e representem uma significativa melhora na vida dos portadores de TDAH. Como o portador de TDAH causa grandes transtornos em todos os ambientes, tanto na escola como no meio profissional, mas com maior impacto nas relações familiares pela proximidade e tempo maior de convivência, é exatamente nesse ambiente que ele vai buscar o apoio necessário para vencer as dificuldades e estabelecer novas rotinas.

Onde buscar ajuda para um diagnóstico de TDAH confiável?

Para começar você pode identificar alguns sintomas que são indicativos de TDAH. Mas lembre-se de que é importante anotar tudo, inclusive as dúvidas, para levar a um especialista, até porque apenas um profissional de saúde pode confirmar e indicar os tratamentos adequados. É importante lembrar que o diagnóstico do TDAH é clínico e o tratamento multidisciplinar, com a participação de especialistas como Psicólogos, Neurologistas e Psiquiatras. E isso vale tanto para adultos, quanto para as crianças e jovens. Os pais podem e devem ficar atentos a todos os comportamentos das crianças e adolescentes que podem estar relacionados ao distúrbio. Inclusive existe um questionário que pode ser um ponto de partida para identificar os principais sintomas.¹ Existem três sintomas principais do TDAH: déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade. Esses sintomas podem se manifestar com intensidade variável em cada paciente e também apresentar-se de forma independente, variando de intensidade e apresentação em função dos sintomas predominantes, conforme a idade do paciente.²
1. Déficit de Atenção

Estes são os sintomas mais difíceis de perceber nas crianças, mas sem dúvida são um dos principais motivos de consulta entre adultos com TDAH. Normalmente são identificados quando a criança vai para a escola porque a idade escolar requer uma atividade cognitiva mais complexa. Geralmente o déficit de atenção persiste de forma relevante na adolescência e idade adulta. As pessoas com déficit de atenção:

  • Têm dificuldade para manter a atenção durante um tempo prolongado;
  • Não prestam atenção aos detalhes;
  • Apresentam dificuldades para finalizar tarefas;
  • Têm dificuldade para escutar, seguir ordens e instruções;
  • São desorganizadas com suas tarefas e atividades;
  • Costumam perder ou esquecer objetos;
  • Se distraem com facilidade;
  • Não concluem o que começam;
  • Evitam as atividades que requerem alto nível de atenção;
  • Mudam frequentemente de conversa;
  • Apresentam dificuldade para seguir as normas e os detalhes dos jogos.
2. Hiperatividade

A hiperatividade pode manifestar-se de formas distintas em diferentes momentos da vida, mas os sintomas permanecem os mesmos, tanto em crianças como em adultos. A hiperatividade pode ser caracterizada nas pessoas que:

  • Se movimentam em momentos inadequados;
  • Têm dificuldade de permanecer quietas quando necessário;
  • Falam em excesso;
  • Fazem ruídos constantemente, inclusive em atividades tranquilas;
  • Têm dificuldade para relaxar;
  • Mudam de atividades sem finalizar nenhuma;
  • São instáveis / inconstantes.
3. Impulsividade

Entre os três sintomas nucleares do TDAH a impulsividade é o menos frequente. A impulsividade é basicamente uma dificuldade de pensar antes de agir, o que pode resultar em problemas, porque expõe o paciente ao perigo de vivenciar situações conflitantes, especialmente na idade adulta. As pessoas com impulsividade:

  • São impacientes;
  • Têm problemas para aguardar a sua vez;
  • Interrompem constantemente os outros;
  • Têm respostas prepotentes, espontâneas e dominantes;
  • Costumam ter conflitos com os adultos;
Mesmo que você tenha se identificado com todos os sintomas relatados é importante consultar um especialista. O diagnóstico de TDAH mais preciso só pode ser realizado por uma longa entrevista com um médico especializado (psiquiatra, neurologista ou neuropediatra). Isso porque muitos dos sintomas do TDAH podem estar associados à outras condições clínicas ou psicológicas. Além disso, apenas um profissional de saúde especializado pode indicar os melhores tratamentos, conforme a idade, o quadro de sintomas apresentados e a eventual comorbidade com outros distúrbios, o que costuma acontecer com alguma frequência. É normal que jovens e adultos se sintam envergonhados com seus sintomas de TDAH e tentem dissimular para esconder a realidade. Os médicos afirmam que este é um problema enorme e persistente.³ Fato que em nada ajuda a solucionar o problema, trazendo o que alguns pacientes apontam como uma verdadeira libertação emocional quando iniciam um tratamento orientado por especialista.

A importância do diagnóstico precoce e o papel dos pais e professores

Uma das características do TDAH é que os sintomas de déficit de atenção e hiperatividade se manifestam simultaneamente nos dois ambientes onde a criança pode ser observada: em casa e na escola. Os pais percebem a agitação o tempo todo e a demora em fazer as tarefas. Na escola a criança repete o mesmo comportamento e por isso pais e professores têm um papel determinante na hora de relatar os sintomas que serão levados ao consultório. Essa observação é essencial para obter um diagnóstico precoce e com ele ajudar a criança no seu desenvolvimento em todos os campos. Até porque existem casos mais leves que podem ser contornados com apoio pedagógico e outros mais graves que necessitam de tratamento medicamentoso. Especialmente para as crianças, é importante contar com apoio profissional para desenvolver atitudes comportamentais que ajudem a se organizar no dia a dia. Outro fator importante de iniciar um tratamento ainda na infância é que ele permite reconhecer os danos à autoestima provocados pelos comportamentos inadequados do portador de TDAH e buscar ajuda psicológica. Nos casos em que isso não acontece, o adulto acaba se descobrindo portador do distúrbio depois de ter passado por inúmeras dificuldades durante toda a vida, muitas vezes sem entender o porquê. E as queixas dos adultos nos consultórios acabam confirmando o quadro típico do TDAH porque, para eles, o trabalho não rende, é enorme a dificuldade de se concentrar em textos longos e cumprir as tarefas cotidianas, não suportam ficar muito tempo sentados no mesmo lugar e também não conseguem manter a concentração em aulas e reuniões. Os esquecimentos se estendem de compromissos às contas para pagar, acumulando críticas da família, dos amigos e no trabalho. Enfim um quadro que poderia ser evitado se tivesse recebido um diagnóstico ainda na infância, facilitando sua vida de criança, adolescente e mais ainda a vida adulta, quando não são aceitas tantas desculpas para os comportamentos inadequados.4

1. ASSOCIAÇÃO-BRASILEIRA-DO-DÉFICIT-DE-ATENÇÃO. Diagnóstico em crianças. Disponível em: http://tdah.org.br/br/sobre-tdah/diagnostico-criancas.html. Acesso em: 18 Jul. 2017.

2. TDAH-Y-TU. Síntomas del tdah. Disponível em: < http://www.tdahytu.es/sintomas-del-tdah/>. Acesso em: 18 Jul. 2017.

3. YAGODA, Maria. I really don’t want you to know about my disorder. Disponível em:<https://www.additudemag.com/overcoming-mental-health-stigma/>. Acesso em: 18 Jul. 2017.

4. DRAUZIO-VARELLA. Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Disponível em: < https://drauziovarella.com.br/crianca-2/deficit-de-atencao-e-hiperatividade-tdah>. Acesso em: 18 Jul. 2017.

Julho/2020 C-ANPROM/BR//1996